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“Não me angustia a folha em branco”

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O diretor de arte, designer e fotógrafo João Paulo Pereira, mais conhecido como Jampa, entrou na propaganda pela porta da frente: começou na DPZ Rio, onde passou muitos anos da sua carreira em um ambiente estimulante para qualquer designer gráfico. Lá, teve a possibilidade de trabalhar com os vários elementos do mundo criativo, muitos deles paixões que sempre o acompanharam como a fotografia, a música, os roteiros. Acabou ficando mais de 20 anos em propaganda, mas com o tempo veio o desencanto com as mudanças na própria profissão. Hoje, ele trabalha com a fotografia e o design de maneira mais autoral, entre outros projetos em que se vale do poderoso conhecimento de marketing e marcas. Para ele, a folha em branco é um sereno convite: criar é um processo calmo, desprovido de stress. Jampa é, como ele mesmo descreve, um “criativo zen”.

O que levou você para a propaganda?
Jampa
– Na verdade, quem. Foi o Carlos (Russo) di Celio. Éramos amigos da Tijuca, meu primeiro filho havia nascido e precisava de uma renda constante. Na época, ele era diretor de criação da DPZ Rio, me convidou para cobrir férias e acabei ficando 9 anos. Duplei com todos os redatores que passaram por lá e minha formação de design gráfico teve tudo a ver com a DPZ, que sempre primou pela direção de arte. Até então, nunca havia pensado em trabalhar em agência, mas conviver com excelentes profissionais, trabalhar com música, fotografia, texto, roteiro, filmes e PDV para grandes clientes, fez totalmente a minha cabeça na época.

E o que tirou você da propaganda?
Jampa
– Tudo mudou muito desde que comecei em propaganda em 1992. Peguei exatamente a transição entre o analógico e o digital. A euforia da chegada dos primeiros computadores, o início da fotografia digital, a transformação do estúdio numa sala de máquinas. Trabalhei durante anos para grandes clientes em algumas das melhores agências do Rio. Depois de um certo tempo, a estética da “Archive” virou uma bíblia (sempre curti mais a Graphis e a Communication Arts) as fotografias viraram colagens, desapareceram os textos grandes e geniais “a lá Fred Coutinho”, as mídias tradicionais para as quais adorava trabalhar não eram mais tão importantes, a propaganda tradicional deixou de ter relevância para outros tipos de comunicação e gradativamente fui perdendo o interesse pelo negócio. Fechei um ciclo. Não sou saudosista, apenas deixei de curtir o ofício nesses termos. Comecei a trabalhar com entretenimento, criando pontes entre marcas e público via produtos culturais, transformando patrocínios em projetos de marketing. Sentimos os primeiros sintomas da crise que vivemos até hoje e fechamos a empresa. Atualmente, trabalho em home office, com design gráfico e fotografia.

Que tipo de criança você foi? Do que gostava de brincar?
Jampa
– Do tipo introspectiva. Meus brinquedos desde cedo tiveram a ver com o que vim a ser depois de adulto. Gostava de brincar com a Praktica FX3 do meu pai, criei pequenos filmes Super 8 com meu irmão, desenhava e escrevia muito. Brincava com qualquer coisa que tivesse lentes, lupas, microscópios, telescópios. Ouvia bastante música no meu toca-discos e no meu gravador K-7 Phillips. Adorava revistas em quadrinhos e gostava de pegar jacaré em Guaratiba com minha prancha Planonda de isopor.

O que pensava em ser quando crescesse?
Jampa
– Acho que nem pensava. Já era. Sabia que queria alguma coisa que envolvesse criação e imagem, porque ja pressentia que não prestava pra nada diferente disso.

Quando decidiu o que queria ser, o que fazia seus olhos brilharem na adolescência?
Jampa
– Mesmo antes de saber exatamente o que fazer, com cinema e seus cartazes, as capas de disco, os anúncios de página dupla, a revista “Photo” francesa, câmeras fotográficas, aparelhagens de som e guitarras.

Qual foi seu primeiro trabalho importante na publicidade – que você curte até hoje, retroativamente?
Jampa
– O primeiro não lembro, mas gosto até hoje da campanha que criei para Coca-Cola Light, em dupla com a Eliana Sá, na DPZ.

Como manteve seu trabalho artístico, paralelamente?
Jampa
– Sempre tentei incorporar minha visão artística no meu trabalho de publicidade. Nunca tive a própria propaganda como referência. Olhava anuários mas na hora de criar, recorria mais a filmes, livros e discos como fontes primárias.
Quase posso dizer que meu trabalho como diretor de arte também era um projeto paralelo.
Criei nos anos 90, junto com mais três amigos, o “Novamúsica” que era uma plataforma de mp3, muito antes de Facebook, Google e Spotify, mas a ideia não achou seu modelo econômico, apesar do relativo sucesso.
Só de pouco tempo pra cá venho praticado a fotografia autoral e trabalhando na criação de uma aplicativo dedicado a entretenimento, mas não posso chamar de projetos paralelos, pela importância e dedicação que exigem.

Como ser fotógrafo no mundo dos celulares com câmeras super poderosas? Você é digital ou analógico? Ou os dois? Ou pouco importa, o que importa é o olhar?
Jampa
– Pouco importa. Uso todas as ferramentes disponíveis. Ainda fotografo analógico mas uso também celular e super câmeras digitais se elas forem adequadas ao trabalho. Recentemente, publiquei um fotolivro, o N.R.A. um diálogo fotográfico em três volumes junto com a fotógrafa Ana Rodrigues, totalmente feito com celular e o trabalho foi aceito na Feira IberoAmericana de Fotolivros de Lisboa.

O que você gosta de fotografar? Que tipo de fotógrafo é você?
Jampa
– Tudo e nada em particular. Hoje em dia, mais revejo o que ja fotografei com olhar curatorial, do que faço fotos novas. Estou desenvolvendo um trabalho em cima de fotos em papel e negativos, refotografado-os digitalmente para adquirirem um novo significado. Fotografo desde meus 7 ou 8 anos mas nem por isso me considero fotógrafo ainda. Acho que sou um iniciante. Sempre.

E o design, como se mantém na sua vida?
Jampa
– O design é a base de todo o meu trabalho e como me vendo profissionalmente. Sou muito mais designer do que fotógrafo. Por enquanto pelo menos…

Como é o seu processo criativo? Como cria melhor?
Jampa
– Ouvindo música e sozinho a princípio. Não me angustia a folha em branco. Adoro os primeiros momentos na solução dos problemas. A memória é sempre o fio condutor e a organização do pensamento, a decantação das ideias e todo o processo criativo é muito calmo. Nunca me deixei contaminar pelos stresses da profissão. Sou um criativo Zen.

Publicidade: qual a sua visão dela, hoje? O que gosta, o que não gosta?
Jampa
– Sou muito pouco impactado pela publicidade atualmente. Não assino nem TV fechada. Acho que hoje, a mídia está bem mais interessante do que a criação strictu sensu. O pensamento, as ferramentas tecnológicas envolvidas, as possibilidades do big data e a afinidade com o tempo que estamos vivendo, tornam a mídia fascinante, saindo da sombra da criação e conquistando protagonismo na indústria da comunicação.

Gatos – por que tê-los?
Jampa
– Porque podemos! São pequenas divindades fofas. Sábios Yogues domésticos. Ao contrário do que se pensa, são muito carinhosos e amigos. Aliás, eles nos têm, e não ao contrário.

Filhos – o que representam na sua vida, como transformaram a sua existência?
Jampa
– Ser pai de dois meninos é como uma viagem no tempo. Uma chance de nos revermos, nos reconhecermos e melhorarmos. Me vi várias vezes como diante de um espelho, tendo a oportunidade de corrigir certos erros através deles. No meu caso, os dois são totalmente diferentes entre eles em tudo, mas ao mesmo tempo, estranhamente, ambos muito parecidos comigo. Devo ser esquizofrênico.

O que você tem lido?
Jampa
– Vario bem a minha leitura. Acabei de ler “Aqui de dentro” do Sam Sheppard. Antes, “Solaris” do Stanislaw Lem. Agora, comecei “Cama da Gato” do Kurt Vonnegut. Na fila, “Encontro com Rama” do Arthur C. Clarke e “Fama e anonimato”, do Gay Talese.

E assistido?
Jampa
– No cinema, “Corpo e Alma”, “O destino de uma nação”, “The square”, “Visage Village”.
De séries, “Lovesick” e “Mars”. Todos ótimos.
De shows, Primavera nos Dentes, Lenine, e Banda Hitz. Excelentes.

Quem são seus ídolos?
Jampa
– Não tenho.

Vinil, CD ou iPod?
Jampa
– Vinil em casa, CD no carro, Ipod de bicicleta ou viajando.

Livro em papel ou eBook?
Jampa
– Papel.

DVD ou Netflix?
Jampa
– Os dois. Nem sempre tenho boa conexão de internet e apelo pros disquinhos.

Para onde você ainda gostaria de viajar um dia?
Jampa
– Laos, Camboja, Vietnam.

O que inspira você?
Jampa
– Exposições de arte, filmes, shows de música, viagens.

O que desanima você?
Jampa
– O Brasil.

Com o que você sonha?
Jampa
– Sonho mesmo? Dormindo? Que toco muito bem guitarra ou que estou voando ou andando de moto. Claro, não faço nenhuma dessas três coisas.
Sonho como desejo distante, uma sociedade fraterna, sem violência de nenhum tipo.

Como se imagina velhinho?
Jampa
– Insuportável

Produção gráfica para Cinerama Brasilis


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